segunda-feira, 20 de junho de 2016

Entrevista I: Wanju Duli

 
Wanju Duli é praticante de Magia do Caos, magia experimental e criativa. Escreve livros sobre o tema.
 
Magick (Entrevistador): Quando e onde conheçeu o método de Sigilos Mágickos?

Wanju Duli (Entrevistado): Foi quando comecei a me interessar mais a fundo pela Magia do Caos, cerca de dez anos atrás (2006). A comunidade de caoísmo do orkut me ajudou bastante. Tive um primeiro contato com a obra de Austin Osman Spare, mas me baseei principalmente no que ensinavam os magistas brasileiros que tinham blogs sobre isso e compartilhavam essas informações. Por volta dessa época testei meus primeiros sigilos, de forma bem atrapalhada. Nem lembro se funcionou, mas foi divertido.

M: Qual(is) método(s) de criação de Sigilos Mágickos você já utilizou?

W: Iniciei pelo básico: cortar as letras repetidas de uma frase ou palavra, juntá-las e formar um símbolo. Mas o meu tipo de sigilo favorito é o pictórico: ou seja, fazer um desenho e desconstruí-lo em formas mais simples. Já fiz muitos desses, pois adoro desenhar!

Acho que a época que mais testei sigilização foi quando realizei as fases iniciais do Liber KKK. Fui orientada em trabalhos de encantamento pelo Peter Carroll no Arcanorium College. Criei um sigilo para cada uma das oito cores da magia e muitos deles funcionaram de forma realmente inesperada.

Foi então que o Peter me sugeriu trabalhar com sigilos que formassem mantras e passei a gostar dessa técnica também. Eu não tinha usado muito esse método no passado e me dei conta que eu me dava muito bem entoando os sigilos. É quase como anunciar para que o universo escute que eu estou determinada que aquilo aconteça. É bem poderoso e me dá muita confiança.

M: Qual(is) método(s) de carregar os Sigilos Mágickos você já utilizou?

W: O meu favorito sempre foi meditações. Isso porque antes mesmo de eu me aprofundar na Magia do Caos eu estudei o budismo por uns dois anos e meditar era algo central na minha prática; algo que fiz tanto que, creio eu, aprendi a fazer bem.

No entanto, ainda emprego mais a meditação para carregar servidores, já que os sigilos costumam ser versões mais simplificadas de magia e que muitas vezes exigem uma forma rápida de carregá-los. Por isso, eu frequentemente substituo a meditação por uma alteração leve de consciência, através de uma concentração rápida.

Como a gnose inibitória costuma demorar mais, uso gnose excitatória quando opto por um carregamento rápido. Através de exercícios de pranayama posso colocar energia nos sigilos aumentando o ritmo da respiração. E eu gosto de dançar quando uso mantras para sigilos, pois assim não somente minhas cordas vocais, mas meu corpo inteiro fica vibrando e tudo isso culmina numa liberação rápida de energias, que funciona quase como um orgasmo, pois quando se atinge o ápice o encantamento é lançado no astral e o corpo cansado suspira em exaustão e êxtase.

M: Em "Pop Magic!", Grant Morrison, declara: "Eu venho os usando [Sigilos] por vinte anos e eles SEMPRE deram certo.". Comente essa frase.

W: Lembro que achei engraçada essa declaração dele, desde a primeira vez que li. Pode ser que seja verdade. Depende para que ele usa os sigilos. Se eu só usar sigilos, digamos, para ficar ligeiramente mais calma ou mais concentrada, eles podem funcionar sempre. Em geral, se o pedido for mais subjetivo e fácil, ele tem mais probabilidade de dar certo, isso é óbvio.

Por outro lado, se você fizer um pedido bem específico e difícil com sigilos, por exemplo, que um elefante se materialize agora na sua frente, pode ser que seus sigilos falhem algumas vezes quando tentar isso. Aliás, se seus sigilos funcionarem em metade das vezes nesse caso, você é um excelente mago!

Acho que o mais importante é o magista ser sincero consigo mesmo, fazer as magias do seu jeito e aceitar seu próprio ritmo. Não importa se o magista X é muito sábio, forte, rico, famoso e habilidoso, ou mesmo se acerta todos os sigilos. Se você não é bom em sigilos não deve se desanimar com isso. É possível melhorar sempre com treino, ou achar outra área da magia na qual você se dê melhor, pois opções não faltam.

Claro que como estamos falando de Magia do Caos, pode-se dizer que há meios de fazer seus sigilos funcionarem, até quando eles não funcionam, mudando as regras do jogo ou usando o "finja até que atinja". Uns chamam isso de trapaça. Outros de diversão na certa.

M: Grant Morrison, no livro "Pop Magic!" diz: "Esquecer o desejo em sua forma verbal pode ser difícil se você começou muito ambiciosamente." - e que - "Sigilos SEMPRE dão certo. Se você encontrar quaisquer problemas para que funcionem para você, você deve estar fazendo errado." - ele coloca como existindo um jeito certo de se Sigilizar, com o esquecimento e a entrada em um estado alterado de consciência como essencial, haja visto a fala, no mesmo livro citado: "Para carregar seu sigilo você deve se concentrar na figura,e deixar aquela forma em sua mente assim você evacua todos os outros pensamentos. Totalmente impossível,você poderia dizer, mas o corpo humano possui vários mecanismos para induzir breves estados 'em branco'. Jejum,girar,exaustão intensa,medo,sexo,efeito lutar ou morrer, todos fazem este truque. Eu já carreguei sigilos quando pulava bungeejumping, deitado morrendo em uma cama de hospital,experimentando um eclipse solar total e dançando techno.". Já Alan Chapman (2008, p. 45, traduzido do original em inglês) em "Advance Magick for Beginners", declara que "a experiência tem mostrado que esquecer é importante para garantir que seu desejo irá manisfestar", mas não considera o esquecimento, nem mesmo o estado de "gnosis" como essencial, . Comente sobre essas idéias.

W: Tanto Grant Morrison quanto Alan Chapman estão certos, mas dentro de um paradigma específico. Em geral, nunca descarto imediatamente uma ideia. A questão talvez seja encontrar um paradigma na qual ela se encaixaria.

Se considerarmos a técnica de sigilos criada por Spare, Morrison está certo. Deve ser feito exatamente do modo tradicional, para ser considerado um "sigilo à la Spare".

No entanto, a Magia do Caos é algo vívido, está sempre em movimento e constante transformação. Não lidamos com dogmas ou verdades estabelecidas e inquebrantáveis. Por isso, os sigilos que os magistas do caos usam hoje não são mais iguais aos que Spare ensinou e nem precisam ser.

Existe um método geral em que sigilos funcionam bem, mas os detalhes podem variar para cada pessoa, que deve adaptá-los de acordo com os testes que o próprio magista realiza.

Tudo bem, o corpo pode possuir mecanismos para induzir estados "em branco", mas isso não significa que eles sejam sempre essenciais. Quando faço meditações, eu frequentemente descubro novos caminhos e métodos para atingir estados alterados semelhantes. Um problema pode ser se acomodar numa única forma de fazer as coisas apenas porque tem dado certo dessa forma.

OK, esqueça os sigilos e altere o estado de consciência se quiser. Mas o que ganhamos com isso? Um livro de regras prontas e fixas de "como fazer sigilos"? Para mim, Magia do Caos não pode ser só isso. É você questionar porque é feito dessa forma e depois descobrir se funciona para você. Pode haver dezenas de especialistas, magistas, cientistas, repetindo que já foi comprovado que as coisas devem ser feitas necessariamente dessa forma e de nenhuma outra, mas acho isso besteira. Nós vivemos numa época de excessiva confiança no método científico e as teorias que a ciência corrobora são tidas como verdade. E depois se descobre que um cara que viveu antes de Cristo já tinha bolado uma teoria tão incrível quanto a atual, que os caras não se deram ao trabalho de ler e testar por causa de arrogância e crença cega em nosso conhecimento atual.

Sou mais da abordagem do Chapman: esquecimento e gnose não são essenciais para ativar sigilos ou para fazer qualquer outro tipo de magia. É claro que o cara que SEMPRE acertou todos os sigilos fazendo dessa forma pode ter medo de testar algo novo, exatamente pelo medo de falhar. Mas eu acho que não precisamos ter medo de falhar. A queda no abismo faz parte da caminhada. A noite escura é essencial para irmos adiante. Quem não passa por quedas como essa pode ficar estagnado no mesmo lugar confortável de sempre, repetindo as mesmas fórmulas a vida inteira, sem aprender nada novo.

Dividir a magia em acertos (quando o ego fica inflado) e erros (quando achamos que fracassamos) é uma forma muito simplista de fazer magia. Às vezes acertos podem ser ruins e erros podem fazer a pessoa crescer. Não aceito esse sistema dicotômico, o caminho do Mago é muito mais complexo. Acertar feitiços pode te fazer um bom feiticeiro, mas não necessariamente um bom mago.

M: Você considera que existe uma ou mais teorias/modelos que explica(m) como os Sigilos Mágickos funcionam? Se sim quais modelos/teorias? Como elas explicam esse funcionamento?

W: Sim, com certeza há boas teorias ou modelos que explicam o funcionamento dos sigilos. Na Magia do Caos usa-se bastante a abordagem do método científico, embora não seja a única possível. Isso significa realizar uma série de experimentos, passo a passo, anotar resultados, repeti-los, até se chegar num tipo de teoria que explique satisfatoriamente o funcionamento de um fenômeno.

Isso não significa que aquela teoria é a verdade. Cada teoria aborda a questão de uma perspectiva diferente e cada uma tem suas vantagens e desvantagens. É preciso sacrificar algumas coisas e fazer algumas concessões. Por fim, uma teoria pode complementar outra: elas não são excludentes.

Esse é o papel da CMT (Chaos Magic Theory) na época em que ela foi desenvolvida. A Magia do Caos não é um sistema de magia, mas um metassistema. Não está fechado em si mesmo e até esse metassistema pode ser colocado em cheque. O mesmo raciocínio pode ser usado para o desenvolvimento de sigilos.

Os sigilos seguem princípio semelhante àquele do desenvolvimento de encantamentos ou feitiços. Tem-se um objetivo e certas coisas que precisam ser feitas no plano material, mental e espiritual para que tal objetivo seja alcançado. Para isso, parte-se do pressuposto de que a causalidade seja verdadeira (causa e efeito), mas também trabalha-se bastante com a correlação entre eventos (relação entre duas variáveis, mas que não estão ligadas por efeito causal).

Um dos modelos de causalidade favoritos dos caoístas é o efeito borboleta: ou seja, uma pequena mudança pode causar efeitos grandiosos e até imprevisíveis num sistema. Por isso, o caoísta não lida apenas com sistemas controlados que possam ser facilmente mensurados, mas também com o elemento do acaso, que para o magista gera uma diversão extra: uma caixinha de surpresas, que é o efeito residual da magia.

Por isso se costuma dizer que não sabemos direito por quais meios o sigilo irá atuar. A meta é que ele funcione, mas o magista precisa se preparar para acontecimentos inesperados, pois o sigilo tem seus próprios caminhos para percorrer.

Costuma-se mencionar bastante o poder do inconsciente na ativação dos sigilos. Ou seja, embaralha-se as letras de uma palavra e cria-se uma situação em que a mente consciente não interfere.

E como o sigilo opera realmente depois que a nossa lógica sai da jogada? Eu mencionaria a interação de forças externas, que se juntam às intenções iniciais do magista. Elas se diluem para que qualquer fenômeno ou ser tomem o controle. Pode ser que Deuses arrastem nossos desejos para um julgamento astral. Ou pode ser mero fruto do acaso, que o sigilo grude em uma energia poderosa e ela exploda. Os caoístas que gostem de matemática se divertem calculando a probabilidade de funcionamento desses sigilos e os que gostam de física logo inventam umas explicações repletas de dimensões e do Princípio da Incerteza. Eu diria que o magista do caos deseja que Deus jogue dados, num processo estocástico, pois se tudo fosse assim tão previsível e ordenado seria muito chato. O caos acrescenta uma insanidade adicional no jogo.

A investigação do caos segue um princípio heurístico que incentiva as descobertas. Eu acharia extremamente entediante se fosse criada uma teoria "certa" de como os sigilos funcionam. Raios, nem as teorias científicas são "certas" e absolutas. Elas devem ser revistas e reformuladas.

Por isso nós trabalhamos tanto com paradigmas. Crie diferentes modelos que expliquem o funcionamento dos sigilos, mas jamais se satisfaça com nenhum deles. É possível ter modelos preferidos, mas nunca modelos melhores ou ideais de forma absoluta.

Até o fato de que os sigilos devem necessariamente funcionar para serem válidos para mim não passa de um dogma. O mago pode optar trabalhar com um sigilo falho e mensurar as energias residuais do sistema, aplicando-as para uma nova operação mágica repleta de potencialidade.

M: Para você, existe alguma vantagem do método de Sigilização em relação à outros? Se sim, quais vantagens? De quais outros métodos?

W: Eu vejo o método de sigilização, tal como é usado hoje na Magia do Caos, simplesmente como uma magia que o Spare criou, assim como ele também criou o Alfabeto do Desejo e a Postura da Morte. Ou melhor, alguns desses métodos ele se baseou em outros já existentes e criou sua própria versão, o que também pode-se considerar o caso dos sigilos, já que antes dele já existia magias parecidas com essa.

O fato é que hoje na MC os sigilos são mais populares que o Alfabeto do Desejo, por exemplo. Também é possível pegar um desenho ou frase de Austin Osman Spare e realizar um feitiço com ele.

E é exatamente para isso que sigilos são bons: encantamentos. Algumas das vantagens dos sigilos são: a facilidade com que podem ser feitos, a simplicidade que permite entender como produzi-los e a enorme potencialidade, pois a partir de algo simples pode-se desenvolver incontáveis versões novas dessa magia, como tem sido feito hoje.

Isso tudo permite uma magia com extrema rapidez. Não vou dizer que "hoje em dia o mundo está muito rápido e as pessoas estão ansiosas por resultados imediatos" pois magias rápidas sempre foram e sempre serão úteis em qualquer época. Por isso, a utilidade de uma magia como essa é atemporal.

Vou mencionar as vantagens dos sigilos em relação a servidores. Não é preciso pensar num sigilo como um "ser" e eu acho que isso ajuda o magista a se desencanar da magia, a não se apegar e esquecer. É frequentemente algo impessoal. Você só faz um rabisco e pronto, não precisa levar tão a sério e se estressar. De certa forma, isso é bom. Já no caso dos servidores é comum ocorrer envolvimento emocional, ser uma magia um pouco mais longa e exigir mais energia do magista. Claro que um sigilo também pode se transformar num servidor, mas isso é outra história.

Porém, eu não considero sigilos algo especial. Apenas aconteceu, talvez por acaso, de sigilos se tornarem populares no caoísmo. Podia ter sido qualquer outra coisa. Mas já que as coisas ocorreram dessa forma, é inevitável que o magista do caos nutra um carinho especial por esse método.

M: Quanto e qual a influencia da Sigilização, e como ela aparece, nos seus escritos (livros e artigos)?

W: Eu escrevo muito sobre Magia do Caos e o meu maior interesse nela é o aspecto filosófico, a criação de sistemas e magia criativa. No entanto, atualmente, especialmente no Brasil, os sigilos e os servidores se tornaram muito populares, então é inevitável que, quando falo de MC, eu fale sobre eles também. Muita gente conhece o caoísmo através disso.

Especialmente nos meus primeiros livros sobre ocultismo (por exemplo, Agracamalas, Grimório da Insolência e Salve o Senhor no Caos) eu me posicionei sobre esses dois tópicos, até porque sei que é isso que as pessoas querem ler. Nos meus livros mais recentes estou abordando outros aspectos do caoísmo, mas acho difícil que um dia eu deixe de falar de sigilos. Afinal, eles são muito legais e já fazem parte da cultura da MC!

No clássico "Understanding Chaos Magic" (que talvez seja o livro sobre Magia do Caos mais conhecido no exterior) Jaq D Hawkins diz que conversou muitas vezes com Kenneth Grant, pois o Grant conheceu Austin Osman Spare pessoalmente. Ela fez muitas perguntas para Grant sobre como o Spare era e sua maneira de pensar.

Hawkins menciona em seu livro que embora Spare tenha criado essa magia de sigilização clássica que utilizamos na Magia do Caos, a intenção de Spare nunca foi que os outros magistas copiassem seus sigilos e começassem a usá-los. Ao contrário, ele criou essa magia para incentivar que os magistas passassem a desenvolver seus próprios sistemas, sendo essa uma das propostas mais fortes do caoísmo.

Por isso, embora eu adore sigilos, confesso que eu os vejo com certa reserva e eu falo deles assim nos meus livros. A magia de sigilos é um tipo de magia pré-pronta como uma forma de bolo. Você pode criar todo tipo de bolo criativo e delicioso com aquela forma, variando os ingredientes e o aspecto estético. Ainda assim, todo bolo que você criar com aquela forma, ainda se limitará ao formato dela (ou seja, os sigilos ainda possuem a limitação de regras pré-estabelecidas, não é uma magia totalmente livre).

Porém, para quem está acostumado a utilizar rituais prontos de livros de magia cerimonial, é claro que sigilos são atraentes, pois eles permitem muito mais liberdade que o modelo anterior. Ainda assim, eles também possuem suas limitações.

No caso da proposta: "crie o seu sistema de magia" você pode partir do zero e criar qualquer coisa! Claro, é contestável a existência de uma magia totalmente livre, pois você sempre vai se basear em alguma coisa e vai acabar misturando os conceitos que outras pessoas já criaram, se seu sistema for um mix de taoísmo, umbanda e magia cerimonial, por exemplo. Não há como ser 100% criativo.

Eu mesma, quando tento criar novas magias, acabo misturando com sigilos, pois eles são como camaleões, podem se transformar em muitas coisas. Sendo assim, já fui e ainda sou muito influenciada por eles. Não importa quantos aspectos negativos eles tenham, como os que apontei acima. Eles ainda são úteis, efetivos e belos. Me desculpe, Spare, nós gostamos de ser criativos, mas ainda somos seus fãs, então vamos continuar a "pegar emprestado" o que você inventou e adaptar para nossas próprias criações. Acho que é esse o espírito: nos deixarmos influenciar e inspirar uns pelos outros. Então o uso de sigilos pode ser visto mais como uma homenagem a seus criadores do que como cópia, já que nenhum método de sigilo é igual a outro e adquiriu sua própria identidade.

M: Você tem alguma(s) dica(s) para se trabalhar com Sigilos?

W: Acho importante o magista encontrar um equilíbrio entre desejar que o sigilo funcione e temer que não funcione. Aquele que está sempre lançando sigilos e é obcecado por anotar resultados e obter sucesso, talvez precise relaxar um pouco, tentar outros meios de conquistar as coisas na vida que não seja apenas a magia e ter foco. Se ele está lançando uns vinte sigilos por dia para resolver qualquer probleminha que aparece, pode ser sinal que ele não é capaz de lidar com frustrações e falhas da vida diária. Isso deve ser revisto. Mesmo que esse magista acerte todos os seus sigilos, cedo ou tarde ele pode enfrentar alguma grande tristeza ou decepção em sua vida e nesse momento não saberá lidar com ela, já que se acostumou sempre a ganhar. Ele precisará desenvolver sua maturidade espiritual e para isso ele precisa experimentar o erro. Errar é etapa fundamental da vida e não um problema a ser eliminado.

Por outro lado, o magista que está sempre com medo que seus sigilos não deem certo, precisa de incentivo. Ele deve confiar mais em si mesmo. Se ele erra quase todos os seus sigilos, não deve encarar isso como falta de habilidade e sim como um desafio estimulante. Nesse caso, seria legal que ele fizesse sigilos mais vezes e tomasse nota do resultado para análise, até que identifique os problemas e os resolva pouco a pouco, no seu próprio ritmo. Cada sigilo acertado, dentre muitos errados, nesse caso será comemorado como uma grande vitória, ao contrário do magista que acerta todos, que talvez esteja até entediado com sigilos, que para ele são previsíveis, não há a adrenalina da surpresa.

Diversão é um aspecto fundamental da Magia do Caos, além da efetividade. Se os sigilos não estão sendo mais divertidos mesmo que funcionem, se são vistos apenas de forma analítica e os acertos automaticamente computados, é hora de banir com gargalhadas e mudar a abordagem. Muita gente acha que o importante dos sigilos é apenas "funcionar" e perdem de analisar todas as outras possibilidades interessantes que eles geram em nosso aprendizado, espiritualidade e emoções.

M: Você tem alguma recomendação(ões) de livros, artigos, sites, enfim, fontes de informações sobre Sigilos?

W: Sim, com certeza! Livros, principalmente. Creio que o fundamental seja "The Book of Pleasure" de Austin Osman Spare, ou outras obras do mesmo autor. Outro bem famoso é o "Practical Sigil Magic" do Frater U.D. Também costumo recomendar outro bem lido aqui no Brasil, que é o "Visual Magick" do Jan Fries, pois ele trata de sigilos de forma bem criativa.

Tem também o NTWICCM de Greg Humphries e Julian Vayne. Esse livro trata sobre a criação do famoso servidor Fotamecus, por Fenwick Rysen, mas o Fotamecus começou sendo um sigilo. Esse sigilo se transformou num servidor pela ação de magistas num show do Metallica e depois, ao longo da produção de um filme sobre esse servidor, ele virou um Deus.

Aliás, eu recomendo qualquer livro de Vayne, pois em vários deles ele fala um pouco sobre sigilos. Ele reflete sobre o uso de sigilos, o que é um passo fundamental antes de discutirmos modos de usá-los.

Para quem gosta de magia contemporânea com tecnologia tem o "Pop Culture Magick" de Taylor Ellwood. O autor ensina como montar sigilos miméticos com colagens e a lançar sigilos enquanto se joga videogame.

Outro clássico: "Advanced Magic for Beginners" de Alan Chapman, que você mesmo citou. Chapman sugere usarmos sigilos com palavras aleatórias e através da dança.

Mais um indispensável: "Book  of Lies: The Disinformation Guide to Magick and the Occult", uma compilação de Richard Metzger. Nesse livro está contido o famoso "Pop Magic!" the Grant Morrison, também citado por você. Um dos autores da obra, comentando sobre Spare, menciona que atualmente os magistas do caos utilizam os sigilos apenas com um propósito pragmático, sem conhecer a fundo a filosofia de Spare.

Outro maravilhoso é um dos meus autores favoritos: Patrick Dunn. Em seu livro "Postmodern Magic" ele fala um pouco sobre sigilos. Segundo ele, atingir um estado de consciência alterado para lançar um sigilo seria um "contraponto estético" ao sigilo e acrescenta:
"Poderíamos, ao que parece, com a mesma facilidade queimar o sigilo e comer um x-burguer se tais ações providenciam um senso de drama e poder apropriados"

M: Dê um feedback de como foi para você a Entrevista.

W: Gostei muito da entrevista. Achei as perguntas relevantes e pertinentes e foi bem divertido responder cada uma delas. A ideia de entrevistar diferentes magistas a respeito do tema dos sigilos é ótima, pois assim é possível compararmos diferentes abordagens. Afinal, a meu ver não existe apenas uma única maneira correta de trabalhar com sigilos e ao ler o que outros praticantes dizem sempre aprendo muito. Agradeço pela oportunidade!

5 comentários:

  1. Adorei a entrevista,uma pergunta,esses livros que você indicou,algum deles existe uma versão em pt-br pt-pt?Gostaria de aprofundar no assunto porem não domino a lingua inglesa.

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    1. Oi Miguel! Dos que citei, acho que Austin Osman Spare e Jan Fries dá pra encontrar em português. No Morte Súbita, por exemplo, tem "O Livro do Prazer".

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  2. Meu,vou acompanhar esse blog, simplesmente foda!

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